entre – um método

(Texto da artista)


„O entre implica não tanto uma diferença - ou différance –
quanto um espaço, um terreno aberto.“

(Dieter Mersch, Kunst und Sprache, livremente traduzido do alemão)

O entre representa o ponto central do meu interesse: ele surge como um não tangível terceiro momento – como efeito simultâneo de dois objetos/momentos tangíveis. Eu examino esse processo através da contraposição e sobreposição de imagens, sons ou planos temporais. O entre finalmente também caracteriza o meu sistema de trabalho, que se expressa através de diferentes mídias e materiais.

Desta forma, o entre está presente também em pesquisas atuais. Por exemplo em trabalhos com referência aos lugares da minha infância (Brasília/Brasil) - in situ, recordados ou virtualmente visitados. Enfoque dessa pesquisa é o caminhar na Cidade-Automóvel de Brasília como modo de uso alternativo do espaço urbano planejado. Minha distância geográfica atual, fez com que Brasília tornasse um espaço ao mesmo tempo familiar e estranho. Nesse interstício entre familiaridade e estranheza, surge um olhar múltiplo, que busca rastos poéticos na contemporaneidade de perspectivas diversas – próprias/recordadas, estranhas/distanciadas ou virtuais/produzidas.


Espectro medial - Desenvolvimento de uma prática multimedial

De início eu trabalhei principalmente com objetos e bordados, sendo que o material em si e o manuseio deste eram de suma importância. Com o passar do tempo também pesquisei o emprego de fotografia e vídeo. Por um lado, examinei o filme como material e trabalhei principalmente com projeções de filmes-negativos e de diapositivos sobrepostos; por outro lado, as mídias Fotografia e Vídeo me possibilitaram expressar melhor o processo de realização artística de diferentes ações, bem como a característica evolutiva destas ações. Surgiram alguns trabalhos de foto- e vídeo-performance , através das quais eu pesquisava acontecimentos do dia-a-dia e examinava a sua sequência. (Em parte, combinei estes trabalhos com quadros bordados, com o objetivo de dar-lhes nova força de expressão). Atualmente, os pontos fortes são os Quadros Bordados, Vídeo e Instalação. A Fotografia em geral é o meu ponto de partida: como molde ou esboço para um trabalho.
Bordado: o bordado é uma técnica demorada, que demanda um tempo muito intenso. Exige a delimitação de contornos e alusão a traçados e estrutura internos. Nesta técnica destacam-se dois aspectos: por um lado o processo – extenso no tempo e parte por parte (ponto por ponto), concentrado num fragmento de quadro e tecido; por outro, o material – o manuseio do tecido, a penetração do plano e como resultado, um relevo quase objeto.
Vídeo: a mídia Vídeo permite, primeiramente, a documentação, apresentação e em seguida pesquisa de movimento, dentro de um espaço de tempo definido. Com as possibilidades técnicas do vídeo digital ainda é possível trabalhar a sequencia temporal, o ritmo e a velocidade e assim provocar alterações na percepção habitual. Eu utilizo repetição (loop), alinhamento e reversão (corte) e distorção de velocidade (intensificação e redução), para refletir sobre a imagem em movimento e projetada, assim como para produzir um certo sentimento/atmosfera.

Instalação: Primeiramente, a instalação é uma disposição de elementos num determinado espaço físico. Esses elementos, tais como imagens, sons, vídeos, quadros bordados etc., estão – lidos em sequência ou simultaneamente – em relação, em um sistema específico. Através da existência destas referências recíprocas me é possível pesquisar e expressar contrastes, e mesmo discordâncias entre as mídias, técnicas e objetos.